quarta-feira, 14 de maio de 2008

ALMANAQUE DE CINEMA (2) CASABLANCA

"CASABLANCA"

Sempre que lembro de um filme "noir", logo me chega aos olhos a cena com Ingrid Bergman : " Play it, Sam". "Casablanca". E os primeiros acordes de "As Time Goes By" me fazem voltar à primeira vez que assisti, na antiga Sessão de Gala da Rede Globo, no início dos anos 80.

Lembro-me que assistia esse filme enquanto fazia um trabalho escolar, e distraído entre a pesquisa de um livro e outro, os diálogos de Humprey Bogart me seqüestravam o olhar para a televisão.
A história me persegui durante minha adolescência, chegando a uma certa obsessão de querer encená-la num trabalho de Educação Artística. Idéia frustrada por Moliére, que também conheci nessa mesma época.
Confesso que nessa fase estava muito volúvel a personagens e fatos novos, que me marcavam muito rápido. Foi uma fase em que buscava ganhar muita informação, para tornar-me um adulto precoce. Muitas coisas eram deixadas em segundo plano, a cada descoberta. E que mais tarde, na fase adulta, recuperei com muito mais fôlego e calma.
Se existe uma fase da vida que posso chamar de "Inferno Astral", minha adolescência com certeza receberia esse título.
Mas retornemos...

"Casablanca". Um filme que necessariamente tinha que surgir sem cor e que perderia seu encanto se fosse filmado em Technicolor.
Colorido ele se tornou somente em meus pensamentos.
Ingrid Bergman...que brilho era aquele que irradiava daqueles olhos em "noir" ?
Só depois de assistir várias vezes prestei atenção no roteiro e comecei ali a me fascinar pelos filmes em preto e branco, que pareciam ter um texto mais sério.
Nem sei se era para compensar a falta do colorido, exigindo através de uma boa história que nosso cérebro colorisse as cenas.
Grandes diretores dessa fase me cativaram.
Recordo também que discutindo sobre "Casablanca" tive pela primeira vez uma conversa com minha mãe - que teve a oportunidade de assistir no cinema - sobre um lado que começava a despertar tardiamente na minha vida: o Romântico.
Chego a soltar um sorriso hoje por causa da pergunta que ela me fez: Você está namorando?
Guardo na minha memória o jeito amoroso com que minha mãe falou sobre o filme. Vi que Bogart e Bergman com certeza tinham marcado a vida dos meus pais.

Percebi que o filme, mais do que mostrar uma trama de conflito pré-guerra, traduzia uma mensagem muito mais forte: o amor entre duas pessoas, que juntas enfrentam muitos problemas, mas que no fim acabam sozinhas, partindo cada uma para o seu destino.
Senti que a sensibilidade de minha mãe ao falar do filme foi mais sobre os problemas que os casais apaixonados enfrentam, e que ela também tinha enfrentado um dia. Mas, diferente do filme, acabou superando...
Será que minha mãe estava me preparando para algo que eu enfrentaria no futuro?

"Casablanca"...um filme que estará no Almanaque da Minha Vida, pela sua história e pela sensibilidadede ter me feito notar pela primeira vez o lado mulher de minha mãe. Que percebeu que eu crescia em vários aspectos.
Play it, Sam...

GIBINHO
Humprey Bogart *25/12/1899 + 14/01/1957
Ingrid Bergman * 29/08/1915 + 30/08/1982

quarta-feira, 7 de maio de 2008

ALMANAQUE DE LITERATURA- (1) MACUNAÍMA (O Herói Sem Nenhum Caráter)


MACUNAÍMA

Meu primeiro contato com Mário de Andrade, confesso , não foi de uma forma agradável.
Uma leitura imposta pelo saudoso professor da época de meu ginásio, Sr. Bretas, que arrependo-me até hoje de não lhe ter dado uma atenção devida em suas aulas. Encarei a leitura como apenas uma obrigação escolar.
Eu era um adolescente, que revolucionário como é peculiar dessa fase, detestava tudo que era imposto, ainda mais páginas e páginas que se tornariam materiais para as malditas provas.

Mas qual não foi minha surpresa ao ler as primeiras páginas de MACUNAÍMA (O Herói Sem Nenhum Caráter), um ser nascido numa tribo amazônica...uma criança igual às outras. Um menino que crescia mentiroso, traidor, praticante de muitas safadezas e que falava palavrões, além de ser extremamente preguiçoso.
Houve uma identificação imediata...tudo que um pirralho adolescente era e adorava ser.

Lembro-me que vivia apenas para ler este livro, comunicando-me com a metáfora de já querer ser um adulto no dia-a-dia, em meus plenos quatorze anos de idade. Queria crescer como a personagem.
Começa a mergulhar nesse mundo do movimento Modernista e saber realmente por que veio...percebi que não era apenas um manifesto de escada do Teatro Municipal (SP), mas sim um encontro de idéias, onde comecei a descobrir os valores brasileiros de uma outra maneira.
Foi o início de uma aventura modernista na trinca dos "Andrades", começando com Mário, descobrindo Oswald e depois invejando as palavras de Carlos Drummond...

Com Mário de Andrade descobri um anti-herói que cresceu nos meus olhos, fazendo saber que uma mitologia indígena brasileira cheia de vida e mensagens existia bem perto...aqui!
Eu, que vivia mergulhado nas histórias dos heróis da Marvel Comics, resolvi baní-los por um tempo depois da leitura desse livro.
Começaram a me parecer um tanto pasteurizados, vindos de um lugar onde o bem e as pessoas não eram nada semelhantes ao mundo/país em que Macunaíma vivia e crescia...meu País.
Tornava-me um "ufanista" como os "Andrades".
Se Macunaíma, com todos seus defeitos, mostrava que ainda poderia acreditar, no fundo, num país bem melhor, por que eu não poderia?
Vai entender o que se passa na cabeça de um adolescente em desenvolvimento...

Numa leitura que acompanha qualquer jovem a ação, com poucas vírgulas e pontuação, com o espaço e tempo indefinidos, Macunaíma mostrou-me que nós também tínhamos nossos Heróis, sem precisar importá-los nos moldes de fora.
Não digo que cresci com todas essas "virtudes negativas" da personagem, mas sua história me fez ver que poderia desenvolver nesse seu amoralismo uma capacidade de ajustar-me a essa sociedade de parâmetros esquizofrênicos que descobri quando tornei-me adulto.
Que descoberta...fabulosa!
Com Macunaíma e Sr. Bretas aprendi que não devemos ler um livro pela cara do professor de português, ou como uma obrigação escolar.
E Sim como razão de vida para conhecer mais sobre uma sociedade, que às vezes se mostra mentirosa e hipócrita, como está narrado em suas páginas, e preparando-nos para enfrentar melhor tudo isso...
MACUNAÍMA. Um romance nacionalista que todo brasileiro deveria ler...e guardar a sete chaves nesse Grande Almanaque de uma Vida.
Gibinho
MÁRIO Raul De Morais ANDRADE
(São Paulo, 1893- 1945)

segunda-feira, 5 de maio de 2008

ALMANAQUE DE COMPORTAMENTO (1) SALAS DE BATE-PAPO


Num mundo de tecnologia virtual onde palavras e idéias atravessam o mundo inteiro, numa velocidade mais rápida que nossos pensamentos, viajando em bandas largas, as salas de bate-papo possuem, na minha opinião, um grande valor na formação de opiniões e troca de experiências. E é assim que sempre acreditei que deveria ser! Por isso sou um assíduo freqüentador delas.

Nesses anos que freqüento os "chats rooms" percebi, observei, troquei e principalmente conheci muita da diversidade do ser humano.
Divergências que causam um certo tremor na idéia básica de se comunicar, já presenciei muitas vezes. Mas delas sempre fujo porque em nada me acrescentam.
Mas não foi com os Homens se divergindo que surgiu essa Civilização Moderna que conhecemos? Talvez sim...

Não que devamos aceitar isso, mas sim aprender com tais fatos...e assim diferenciar o bom do mau, e o melhor do pior.
Aprendi nessas conversas que nem sempre a simples matemática do um mais um sempre será dois, mas às vezes três, quatro, cinco, partindo para um infinito de posições que nunca imaginei que existissem.
Como certos temas podem provocar tantas opiniões?
Que bom isso...comunicação!

Aprendo sempre e revejo as palavras ditas como uma segunda opinião, e assim posso sempre ter uma conclusão mais segura sobre vários assuntos.
Aprendi que o importante é sempre somar, e dividir os bons resultados com as pessoas.
Nem é questão de índole, mas sim de uma virtude que todos possuem e que por algum sedentarismo não praticamos.
O mundo seria tão melhor se assim fizéssemos!
E é com essa missão que freqüento os chats.

Encontrei muitos amigos com algo mais importante que palavras semelhantes, mas com o mesmo espírito de querer viver numa harmonia que sempre achei necessária, e assim passo momentos que me fazem crescer como pessoa.
Recordo sempre de alguns fatos que ainda não vivi, relatados nas conversas, mas que observei existirem e quem sabe num futuro experimentarei.

Independente da raça, gênero e grau tenho uma gama enorme dessas pessoas que guardarei em minha memória. Mesmo conhecendo-as virtualmente, sei que vivem da mesma maneira que sempre viverei...aproveitando cada minuto da existência para o bem.

Solidão, problemas diversos e momentos de felicidades são confidenciadas entre as pessoas, que somente quando podem ser chamadas de amigas, compartilham em plena confiança com você.
Orgulho-me de ser respeitado...assim como orgulho-me de respeitar todos.
Orgulho-me dessa partilha de sentimentos.

Continuarei sempre acreditando nessas salas de bate-papo, porque tenho amigos que me fazem não desistir da idéia de que essa moderna tecnologia, chamada de internet, não veio à tôa, mas com a missão de unir.

Por isso esses AMIGOS das salas de bate-papo sempre estarão guardados no Almanaque da minha vida. E agradeço por isso!!!


GIBINHO

quarta-feira, 30 de abril de 2008

ALMANAQUE DE MÚSICA (1) Grupo Anima

GRUPO ANIMA

Resgatar a memória de um país é um trabalho difícil, ainda mais quando se trata do Brasil, onde não se encontram tão facilmente registros escritos. Os cantos populares são guardados somente na memória do boca-a-boca.
Imagine ainda regastar uma história e criar uma linha musical aliada a tradição, com origens e influências renascentista e barroca brasileiras?

Justamente é isso que o Grupo Anima, brasileiro por nascimento e mundial por adoção, faz com capricho e competência.
Nota-se uma multiplicidade de linguagens e logo identificamos uma forte mistura medieval européia com a música tradicional oral brasileira.
O grupo tenta encurtar essa enorme ponte entre os universos musicais, vocais e instrumentais com o prazer de uma extraordinária audição.
Em seus quatro cds lançados (Espiral do Tempo, Especiarias, Amares e o mais recente, Espelho), viaja-se por composições que mantêm a fidelidade do primor. Utilizam instrumentos do passado e do presente, misturando cantos e cantigas de um Brasil esquecido, vindos de todos os pontos cardeais.
Sons desconhecidos são descobertos: caixa do Divino, vasos de cerâmica, rabecas e violas brasileiras, cravo, flautas-doce históricas e flautas indígenas, misturadas a uma voz que nos transporta numa "Espiral doTempo".
E mesmo em trabalhos autorais fazem questão de manter esse diálogo das culturas popular e erudita. Constróem um repertório elaborado, onde percebe-se um rico trabalho de pesquisa musicológica histórica.
Uma grande viagem entre as Especiarias, os Amares de um povo, refletido nesse Espelho que mostra essa grande variedade e qualidade musical brasileira, porém desconhecida.
Abaixo o CRÉU!!!
ANIMA, um grupo que conheci por acaso nessas megastores do nosso caminho e que estará sempre no Almanaque da minha Vida.
ANIMA O MEU ESPÍRITO!!!
GIBINHO
Veja um clip do grupo: VÍDEOS (2) Tata Engenho Novo e
escute músicas do grupo no multiply http://www.gibinhosp.multiply.com/
músicas ANIMA

terça-feira, 29 de abril de 2008

ALMANAQUE DE CINEMA (1) Carruagens de Fogo

CHARIOTS OF FIRE
(CARRUAGENS DE FOGO)
Estamos próximos de mais uma grande Olimpíada, que promete ser espetacular. Claro que relevando-se os atuais problemas do tiranismo chinês com o povo tibetano.
Mas o que venho expôr aqui é sobre uma grande mensagem que o filme "Carruagens de Fogo" transmite.
O filme narra a história de um missionário-atleta, que escreveu seu nome na história dos jogos olímpicos. O corredor escocês, Eric Lidell, vence a corrida dos 400 m na Olimpíada de Paris em 24, levantando a bandeira de que Deus foi o merecedor de sua vitória.
Sua saga transformada em filme, pelas mãos do diretor inglês Hugh Hudson, em 81, acabou transformando-se num grande épico neste Almanaque de minha vida.
Mais do que um filme sobre esporte, que conta a história de um corredor, ele fala dos ideais de coragem, honestidade, liderança e, principalemente, de lealdade, camaradagem e responsabilidade do ser humano.
O tão falado espírito olímpico, que une pessoas de diferentes culturas, não se transforma em um simples melodrama barato e piegas.
Valores humanos que deveriam, na minha opinião, estar sempre implícitos em nossos atos do dia-a-dia. Independente das gotas de suor e lágrimas que derramamos como "atletas" que nos tornamos nesse mundo, com um único objetivo: VENCER!
Assistindo a esse filme, resgatamos esse elo perdido da camaradagem e, no final paramos para refletir sobre todos esses valores esquecidos.

Mais famosa que o próprio filme, a trilha sonora,composta pelo grego Vangelis (Evangelos Odyssey Papathanassion), tornou-se símbolo dessa superação. Faz com que abandonemos nosso sedentarismo pela prática do culto da lealdade, honestidade e principalmente da amizade.
"Carruagens de Fogo", um filme que estará sempre no almanaque de uma vida de quem assistí-lo. Com certeza.

GIBINHO


Chariots of fire (Carruagensde Fogo)
1981
Direção: Hugh Hudson
Atores: Ben Cross, Ian Charlesson, Migel Havens


música: VANGELIS
(Evangelos Odyssey Papathanassion)











1- veja um clip em VÍDEOS : Almanaque de Cinema (1) / Chariots of Fire
2- escute o tema em MÚSICAS- Almanaque de Trilhas (1) / Vangelis-Chariots of Fire

revisão de meus textos: grande amiga Valéria Lopes Narezzi

segunda-feira, 28 de abril de 2008

PREFÁCIO


Criei este espaço para dividir com as pesssoas experiências adquiridas e, especialmente, compartilhar os bons momentos que descobri, revelei e que, por certo privilégio, pude usufruir.


Citarei em textos, sons e imagens alguns desses grandes elementos de uma vida, que me ajudaram a sentir um pouco mais humano e útil.


A grande idéia é que aqui seja uma grande mesa de boas discussões com o sabor de procurarmos juntos, sempre, os bons caminhos. E que rodeados somente de boas idéias possamos juntos escrever este

GRANDE ALMANAQUE DE UMA VIDA.





"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."
(Poema Alma Perdida - Clarice Lispector - *dez/1920 +dez/1977)