"CASABLANCA"
Sempre que lembro de um filme "noir", logo me chega aos olhos a cena com Ingrid Bergman : " Play it, Sam". "Casablanca". E os primeiros acordes de "As Time Goes By" me fazem voltar à primeira vez que assisti, na antiga Sessão de Gala da Rede Globo, no início dos anos 80.
Lembro-me que assistia esse filme enquanto fazia um trabalho escolar, e distraído entre a pesquisa de um livro e outro, os diálogos de Humprey Bogart me seqüestravam o olhar para a televisão.
A história me persegui durante minha adolescência, chegando a uma certa obsessão de querer encená-la num trabalho de Educação Artística. Idéia frustrada por Moliére, que também conheci nessa mesma época.
Confesso que nessa fase estava muito volúvel a personagens e fatos novos, que me marcavam muito rápido. Foi uma fase em que buscava ganhar muita informação, para tornar-me um adulto precoce. Muitas coisas eram deixadas em segundo plano, a cada descoberta. E que mais tarde, na fase adulta, recuperei com muito mais fôlego e calma.
Se existe uma fase da vida que posso chamar de "Inferno Astral", minha adolescência com certeza receberia esse título.
Mas retornemos...
"Casablanca". Um filme que necessariamente tinha que surgir sem cor e que perderia seu encanto se fosse filmado em Technicolor.
Colorido ele se tornou somente em meus pensamentos.
Ingrid Bergman...que brilho era aquele que irradiava daqueles olhos em "noir" ?
Só depois de assistir várias vezes prestei atenção no roteiro e comecei ali a me fascinar pelos filmes em preto e branco, que pareciam ter um texto mais sério.
Nem sei se era para compensar a falta do colorido, exigindo através de uma boa história que nosso cérebro colorisse as cenas.
Grandes diretores dessa fase me cativaram.
Recordo também que discutindo sobre "Casablanca" tive pela primeira vez uma conversa com minha mãe - que teve a oportunidade de assistir no cinema - sobre um lado que começava a despertar tardiamente na minha vida: o Romântico.
Chego a soltar um sorriso hoje por causa da pergunta que ela me fez: Você está namorando?
Guardo na minha memória o jeito amoroso com que minha mãe falou sobre o filme. Vi que Bogart e Bergman com certeza tinham marcado a vida dos meus pais.
Percebi que o filme, mais do que mostrar uma trama de conflito pré-guerra, traduzia uma mensagem muito mais forte: o amor entre duas pessoas, que juntas enfrentam muitos problemas, mas que no fim acabam sozinhas, partindo cada uma para o seu destino.
Senti que a sensibilidade de minha mãe ao falar do filme foi mais sobre os problemas que os casais apaixonados enfrentam, e que ela também tinha enfrentado um dia. Mas, diferente do filme, acabou superando...
Será que minha mãe estava me preparando para algo que eu enfrentaria no futuro?
"Casablanca"...um filme que estará no Almanaque da Minha Vida, pela sua história e pela sensibilidadede ter me feito notar pela primeira vez o lado mulher de minha mãe. Que percebeu que eu crescia em vários aspectos.
Play it, Sam...
GIBINHO
Humprey Bogart *25/12/1899 + 14/01/1957
Ingrid Bergman * 29/08/1915 + 30/08/1982